terça-feira, 30 de março de 2010

Inês de Castro na Poesia

A Lamentável Catástrofe de D.Inês de Castro

Da triste, bela Inês, inda os clarmores
Andas, Eco chorosa, repetindo;
Inda aos piedosos céus andas pedindo
Justiça contra os ímpios matadores;

Ouvem-se ainda na fonte dos Amores
De quando em quando as náiades carpindo:
E o Mondego, no caso reflectindo,
Rompe irado a barreira, alaga as flores.

Inda altos hinos o universo entoa
A Pedro, que da morta formosura
Convosco, Amores, ao sepulcro voa:

Milagre da beleza, e da ternura!
Abre, desce, olha, geme, abraça e c`roa
A malfadada Inês na sepultura.

Bocage

Comentário ao poema

Este poema retrata a catástrofe da morte de D. Inês de Castro.
O sujeito poético descreve a dor sentida por todos os elementos da natureza, que compartilham o sofrimento de Pedro. Por fim, o eu lírico enuncia as acções de Pedro depois da morte de Inês para coroá-la rainha.

Ana Francisca e Cátia Gomes, 9º A



INÊS DE PERTO E DE LONGE

A hora vespertina da penumbra
Inicia a viagem interior
Onde já tudo se apaga:
Jardins, musgos e fontes.
A terra prometida
Vem pela manhã,
No mel claro ou rosto
Que amacia os horizontes.
Arrefece ainda nas pedras,
Cicatrizes de presença.
Mas neste deserto diário
Há o oásis no outro lado.
Turva-se a memória
No caminho ébrio,
Cruzado do destino
Do ter ou do viver.
Fino gume tem o instinto
De mais alvorecer.
Na luz modulante da lua
Os anjos corrigem a noite.

Eduardo Aroso



A LAMENTÁVEL CATÁSTROFE DE INÊS DE CASTRO

Antes do fim do mundo, despertar,
Sem D. Pedro sentir,
E dizer às donzelas que o luar
E o aceno do amado que há-de vir...

E mostrar-lhes que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura:
O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.

E pedir-lhes, depois fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês...
À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português

Miguel Torga


INÊS MORREU

Inês morreu e nem se defendeu
da morte com as asas das andorinha
pois diminuta era a morte que esperava
aquela que de amor morria cada dia
aquela ovelha mansa que até mesmo cansa
olhar vestir de si o dia-a-dia
aquele colo claro sob o qual se erguia
o rosto envolto em loura cabeleira
Pedro distante soube tudo num instante
que tudo terminou e mais do que a Inês
o frio ferro matou a ele.
Nunca havia chorado é a primeira vez que chora
agora quando a terra já encerra
aquele monumento de beleza
que pode Pedro achar em toda a natureza
que pode Pedro esperar senão ouvir chorar
as próprias pedras já que da beleza
se comovam talvez uma vez que os humanos
corações consentiram na morte da inocente Inês
E Pedro pouco diz só diz talvez
Satanás excedeu o seu poder em mim
deixem-me só na morte só na vida
a morte é sem nenhuma dúvida a melhor jogada
que o sangue limpe agora as minhas mãos
cheias de nada
ó vida ó madrugada coisas do princípio vida
começada logo terminada.

Ruy Belo


D.INÊS DE CASTRO

Choram ainda a tua morte escura
Aquelas que chorando a memoraram;
As lágrimas choradas não secaram
Nos saudosos campos da ternura.

Santa entre as Santas pela má ventura,
Rainha, mais que todas que reinaram,
Amada, os teus amores não passaram
E és sempre bela e viva e loira e pura.

linda, sonha aí, posta em sossego
No teu muymento de alva pedra tina,
Como outrora na Fonte do Mondego.

Dorme, sombra de graças e de saudade,
Colo de Graças, amor, moço menina,
Bem-amada por toda a eternidade!

Afonso Lopes Vieira

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